À espera que aconteça...

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Revivalismos

Há uns tempos atrás circulou um e-mail que se intitulava "Será que nasceste nos anos 60, 70 ou 80? Como conseguiste sobreviver?" e que versava mais ou menos o seguinte:

«Os carros não tinham cinto de segurança, nem apoio de cabeça, nem seguramente airbags. No banco de trás era a festa, era "divertido" e não era "perigoso".
As barras das camas e os brinquedos eram multicolores ou envernizadas com tintas e continham chumbo, ou outros produtos tóxicos.
Não havia protecção infantil nas tomadas eléctricas, portas das viaturas, medicamentos e outros produtos químicos.
Podia-se andar de bicicleta sem capacete
Bebia-se água da mangueira de rega, num chafariz ou em qualquer outro sítio, sem que fosse agua mineral saída de uma garrafa estéril...
Fazíamos carros com caixas de sabão e aqueles que tinham a sorte de ter uma rua asfaltada inclinada junto de casa podiam tentar bater recordes de velocidade e aperceberem-se, tarde demais, que os travões tinham sido esquecidos... Após alguns acidentes, o problema era normalmente resolvido!
Tínhamos o direito a brincar na rua com uma única condição, estar de volta antes de anoitecer. E não havia GSM e ninguém sabia onde estávamos, nem o que fazíamos...Incrível!
A escola fechava ao meio-dia para almoço, podíamos ir comer a casa.
Arranjávamos feridas, fracturas e às vezes até partíamos os dentes, mas ninguém era levado a tribunal por isso. Mesmo quando havia grande bagunça, ninguém era culpado, excepto os próprios.
Podíamos engolir toneladas de doces, torradas com toneladas de manteiga e beber bebidas com açúcar de verdade, mas ninguém tinha excesso de peso, porque estávamos sempre na rua.
Podíamos partilhar uma limonada com a mesma garrafa sem receio de contágio .
Não tínhamos Playstation, Nintendo 64, X-Box, jogos vídeo, 99 programas de TV por cabo ou satélite, nem vídeo, nem Dolby surround, nem GSM, nem computador, nem Internet, mas nós tínhamos.... AMIGOS! Podíamos sair, a pé ou de bicicleta para ir a casa de um colega, mesmo se ele morasse a vários km, bater à porta ou simplesmente entrar em casa dele e sair para brincarmos juntos. Na rua, sim na rua, sem vigilância! Como é que isso era possível?
Jogávamos futebol só com uma baliza e se um de nós não era seleccionado, não havia traumas psicológicos, nem era o fim do mundo!
Por vezes, um aluno tinha que repetir o ano. Ninguém era enviado ao psicólogo ou ao pedopsiquiatra. Ninguém era dislexico, hiperactivo, nem tinha " problemas de concentração". O ano era repetido e pronto, cada um tinha as mesmas oportunidades que os outros.
Tínhamos liberdades, erros, sucessos, deveres e tarefas... e aprendíamos a viver e a conviver com tudo isso.
A pergunta é então: mas como conseguimos sobreviver? Como pudemos desenvolver a nossa personalidade?».


De vez em quando, em conversa com os amigos, voltamos atrás no tempo e recordamos as cenas mais incríveis. As coisas que fazíamos, como o famoso jogo do "bate o pé", em que se falava à boca cheia da tal camisa de Vénus, mas que no fundo ninguém sabia muito bem o que era! Ir para os campos e mastigar azedas…
As séries que víamos...Na infância, quem não se lembra do Topo Gigio? Quem não chorou no último episódio? E o Tom Sawyer e o seu amigo Huck Finn, sempre em grandes aventuras. Para as mais girly, a Candy Candy ou a Heidi. E o Marco? Era também sempre uma choradeira pegada "vais te embora mamã, não me deixes aqui…"...Benny e Flappi, A Abelha Maia, "lá num país cheio de cor, vivia um dia uma abelha…todos lhe chamavam a pequena abelha maia…maia, maia". Les Cités d’OrEra uma vez a Vida ou o Espaço.

Depois na adolescência, séries como a Galáctica, Missão Impossível, V A Batalha Final (a série dos lagartos com a língua grande…), Os Soldados da Fortuna ou então o famoso Justiçeiro Michael Knight e o seu Kit. Mas a memória de alguns de nós ainda vai mais longe, por exemplo, no outro dia ao almoço, fomos presenteados com a música dos Jovens Heróis de Shaolin, cantada pela Euzinha (fantástico!). Segundo suas palavras, ela lembra-se porque com o seu rádio da altura gravou a música directamente da televisão, portanto, naquela altura em que para gravar carregava-se em simultâneo no play e no rec e, desde então nunca mais se esqueceu…
Eu não precisei de gravar, mas se há música que eu nunca mais me esqueci foi aquela do Verão Azul, em que o Piranha e seus comparsas lutavam para que o barco do Chanquete não fosse abaixo…

E os nossos ídolos da altura? Os Wham, os Bros, os Erasure, o Limahl, o Michael jackson, os Communards, The Smiths, as Bananarama, os Transvision Vamp, tantos…forrávamos as paredes do quarto e do roupeiro com os seus posters. E os autocolantes da Bravo? A loucura…

Adorei crescer nos saudosos anos 70/80, alguns dos meus melhores amigos são desse período (estamos quase a celebrar as bodas de prata!). Na altura, para nós, ir a Lisboa era assim uma coisa do outro mundo e antes de entrarmos na Faculdade, o mais que conhecíamos era a Baixa. Não morávamos muito longe uns dos outros, mas comunicávamos via carta, com códigos próprios e em envelope selado… Não quero parecer uma velha do Restelo, mas foram bons tempos…Crescemos com valores e princípios que se mantêm até hoje, mas a dada altura intitularam-nos de "Geração Rasca". Vá-se lá saber porquê, quando a colheita de 70 foi das melhores que já se produziu…

ass: a gaija trendy

Ps. É verdade, já me esquecia da famosa mala da Madonna!!!A minha era amarela e verde e a da Euzinha cor-de-rosa e azul. Só há bem pouco tempo me desfiz dela, ofereci-a à minha prima de 10 anos e entreguei-a, como se de uma relíquia se tratasse.

11 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

...those were the days. :)

como diz(em) Cartell70:
"A geração 70 arrebenta, arrebenta!"

Apesar de tudo, identifico-me mais com a Geração X (Douglas Coupland) do que propriamente a "Rasca" (um qq frustrado sexual).

Nice post gaija "de alguma maneira" trendy *

terça-feira, janeiro 09, 2007  
Blogger a gaija trendy disse...

Uma gaija já não pode andar de pijama, é isso?

Tens que me visitar mais vezes, andaste desaparecido!

*

terça-feira, janeiro 09, 2007  
Blogger tiagugrilu disse...

Meus deuses! - Que bom foi ler isto...! E nasci e cresci nos 80's (1981), mas identifico-me com quase tudo o que escreveste (menos a mala da madonna, isso seria uma bocado gay... ou melhor: muito gay), especialmente porque cresci numa aldeia, onde a bicicleta era a minha nave espacial.

Quero aqui deixar um episódio da minha infancia:

Tinha +/- uns 6 anos, e deslocava-me numa vermelha e vistosa bicicleta "Vilar", daquelas clássicas, com uma grade atrás que dava para dar boleia aos amigos. O meu primo Bruno tinha já uma BMX ("xinamén! - uma BMX!!! deixa dar uma volta... vá lá...").

Preparávamo-nos para descer um caminho cheio de calhaus, com uma inclinação brutal - coisa que fazíamos diariamente - quando eu me lembrei: "vamos trocar de bicicletas?"

- Má ideia...

Como sabes, as bicicletas estavam ensinadas para andar com o dono...

Pedalei com toda a força rumo ao abismo, e até corria bem até começar a saltar desgovernado no meio das pedras, que me atiraram para fora da pista... Subi uma barreira lateral e fui parar a um terreno de oliveiras. E os terrenos de oliveiras têm muitas... oliveiras... bati com os dentes da frente no tronco, caí para o lado e fiquei deitado a cuspir os dentes!

Agarrei nos 2 dentes caídos e levei-os para casa na mão (ia de bicicleta, claro, que um piloto nunca desiste) e mostrei-os à minha mãe.

- Ela disse: não faz mal, filho, deviam estar para cair... não tarda nada crescem-te os definitivos...!

E cresceram! hoje tenho uma bela pianola e memórias destas para me alegrar o dia-a-dia.

segunda-feira, janeiro 15, 2007  
Blogger a gaija trendy disse...

Aiiiiii a BMX...bom...o máximo! Apenas tive a minha quando tinha pra aí 12 anos, era bordeaux, cromada, toda XPTO...Não caí num terreno de oliveiras como tu, mas um dia, ao experimentá-la (a minha estava na varanda da sala, tipicamente à citadina)desequilibrei-me e, basicamente eu e a bicecleta entrámos pelo vidro da sala, cortei-me, chorei bastante. Mas pronto passou, ainda hoje tenho a cicatriz para me lembrar do episódio...

Obrigada pela partilha...

segunda-feira, janeiro 15, 2007  
Blogger a gaija trendy disse...

Tiagu, já agora...se te identificasses com a mala da Madonna, era de facto um pouco estranho, ou não...afinal os metrosexuais existem e "andem" aí...

Bjs

segunda-feira, janeiro 15, 2007  
Blogger Borboleta disse...

Meu Deus! podia estar aqui a noite toda a escrever do que me lembro da minha infância e adolescência! Gloriosos anos 80 :) O fato de treino com as riscas brancas laterais e o fecho que fazia uma marreca à frente, as réguas espetadas a sair da mochila nos dias em que tínhamos aulas de Educação Visual, descer a rua em cima de um carrinho de rolamentos sem travões... grandes tempos!

segunda-feira, janeiro 15, 2007  
Anonymous Anónimo disse...

E as bandas de garagem com os Peavey de 100 wats a bufar uma cena parecida com o dia do anteontem do armagedon ? As festas em casa com os vizinhos a chamarem a policia por causa do barulho, os primeiros pifos, as primeiras mulheres- gaijas...? Ninguém tira esqueletos do armário?

Haja santidade,

Rock-Rendez Vousmente,

Jonnhy Guitar:)

ps. GT, também foste ao concerto dos Tranvision ao Belenenses? Saí a meio para ir enfardar pasteis de belém...tava cá com uma traça!!!:D

quarta-feira, janeiro 17, 2007  
Blogger a gaija trendy disse...

Festas em casas dos amigos com os vizinhos a chamarem a polícia, pelo menos para mim, não fazem parte do passado, mas pronto não vou adiantar mais nada...

Xi!!! o meu primeiro pifo...minha mãe...até subi as escadas do prédio de gatas!!!

Rock Rendez-Vous :))))Fui também aos concertos de selecção de novas bandas, já nos anos 90, num teatro onde hoje fica o Hard Rock Café, em frente ao cinema Olimpia -Restauradores. Volta e meia era ver gaijos a bater punhetas no meio de pessoal e lá alguém tinha que gritar que ali não era o Olimpia...lol. Foi aí também que os saudosos Ornatos Violeta se tornaram mais conhecidos...

E o Jonnhy...boas recordações...

Sim, fui ver os Transvision, mas não saí a meio para ir comer pastéis de nata. Lol...

Bom está visto, vou continuar na onda revivalista....

Ps. É esse agora o teu novo heterónimo?

quarta-feira, janeiro 17, 2007  
Anonymous Anónimo disse...

Bom, visto isto dos heterónimos a sério terem acabado com o Pessoa vou mas é deixar-me de coisas...

E os MODERN TALKING?!?!?!?!

Your my heart, your my soul ..la,la,la, forever I know...Your my heart.....

Heterónimamente,

Tirano de Siracusa

P.s. Criei na minha fortaleza uma passagem secreta para os vossos aposentos.

Check my blog;)

quinta-feira, janeiro 18, 2007  
Blogger a gaija trendy disse...

Muito fixe...a passagem secreta...Gostei...

Sei que em Siracusa quem manda és tu, mas desafio-te, porque não um post revivalista sobre o Festival Sudoeste?

Da minha parte, fica a promessa de comentar, aliás porque em 10 anos de Sudoeste, fui a 7 edições. Tenho muitos episódios para contar e relatar...

No entanto, devo dizer que não há mística como a de Vilar de Mouros e se falarmos em cartazes (bandas) à séria, então Paredes de Coura é Rei.

Festivaleiramente

gaija trendy

P.s. E os Technotronic...Pump up the Jam

quinta-feira, janeiro 18, 2007  
Blogger tiagugrilu disse...

Puuuuuuuuump up the Jam!!!

- Voto no revivalismo do Sudoeste, e se for essa a onda, tb tenho uns filmes para contar.

;)

p.s.: esta malta é fixolas.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007  

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